É com muita alegria e otimismo que o Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI) lança a revista cientifica Trilhas da Migração. Ela foi gestada com a colaboração de muitas pessoas engajadas nas temáticas que são verdadeiras bandeiras de lutas, como o combate ao trabalho escravo contemporâneo, ao tráfico de pessoas, ao trabalho infantil, à violência de gênero e à violação dos direitos humanos, sobremaneira, dos mais empobrecidos, das minorias em termos de poder como migrantes, mulheres, povos indígenas, povos das florestas, afrodescendentes, sem-terra, sem-teto, desempregados, população em situação de rua etc.
As temáticas apresentadas são pautadas na Ciência. Todavia, não há neutralidade científica, haja vista que esse mito já foi superado em nosso entendimento. Nosso objetivo é o de aproximar ainda mais o conhecimento científico produzido, sobretudo, nas universidades com os saberes populares, construídos de forma empírica, historicamente acumulados, saberes esses que a Ciência Oficial excluiu, marginalizou e até mesmo apagou em muitos locais.
Nós optamos claramente pelo fazer científico engajado, por uma Ciência contra-hegemônica ao sistema capitalista excludente, com temáticas e procedimentos teórico-metodológicos que fortalecem a emancipação social dos sujeitos, com avanço na construção de um outro modelo de sociedade, pautada no bem-viver, na inclusão de todos, na democracia e cidadania ativas, local e universal, com equidade e justiça e social.
Trilhas da Migração não poderia nascer em um momento mais oportuno, como um veículo de resistência às mazelas sociais que estamos vivenciando, sobremaneira, com um governo extremamente autoritário, induzindo à violência verbal, física e psicológica dos cidadãos, à aquisição de armas, à prática do machismo, à degradação social e ambiental, ao racismo, à discriminação e à xenofobia, com verdadeiros retrocessos e estagnações em diferentes setores do campo e da cidade.
Nossa opção foi a de potencializar e amplificar a voz e a vez dos sujeitos excluídos ou “invisibilizados” socialmente. Estes são protagonistas de suas histórias, suas escolhas para a realização dos seus sonhos, projetos pessoais e coletivos, contando muitas vezes com o apoio de instituições pautados na solidariedade, na empatia e na alteridade. Através de suas vozes, gestos, estética, sorrisos, choro, projetos, nos reconhecemos neles e nas suas lutas, caro leitor e leitora. Assim como você e eu, eles almejam a felicidade, a vida em plenitude, amar e ser amado, ter trabalho e renda dignos, moradia e educação de qualidade, sem distinção qualquer que seja, tratados como verdadeiros irmãos, cidadãos brasileiros e do mundo.
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O que você vai encontrar nesta primeira edição.
Em seu projeto editorial, a revista Trilhas da Migração nasce com a proposta de pautar o tema da migração, contribuindo para a ação e a reflexão sobre os desafios brasileiros e globais que envolvem os deslocamentos humanos, com olhares diversos e abordagens em profundidade dos seus aspectos econômicos, politicos, sociais, culturais, ambientais, entre outros. Seus objetivos são:
- Contribuir com a produção científica sobre as questões de migrantes e refugiados, como um fenômeno da atualidade e um desafio para o desenvolvimento de políticas públicas e de cooperação entre governos com a participação da sociedade civil.
- Oferecer subsídios e conteúdos conceituais para a atuação de organizações nacionais e internacionais que trabalham com migrantes e refugiados, compartilhando conhecimentos a partir da experiência do CAMI.
- Incorporar a visão dos migrantes e refugiados na abordagem dessa temática, de modo a trazer novas percepções dos sujeitos envolvidos, na perspectiva de direitos e da construção da autonomia.
- Subsidiar pesquisadores, docentes e estudantes interessados na temática, ao trazer artigos científicos com referencial teórico sólido e fontes primárias como entrevistas, fotografias, relatórios, atas…
Nesta primeira edição, estamos dando materialidade a esses objetivos na seção “Fala Você”, que traz quatro histórias de vida de imigrantes e refugiados de diferentes nacionalidades. Deepshikhi Karki, Nives Yabana Ramirez Guevara, Absulbaset Jarour e Jean dão rosto e voz às pessoas que chegam nessa condição ao Brasil, trazendo uma contribuição inestimável para a compreensão dos problemas dessa população, ao falarem sobre as lutas, desafios e sonhos que carregam na bagagem.
Esses depoimentos vivos introduzem páginas de Artigos escritos por pesquisadores acadêmicos que se debruçaram sobre o tema com recortes específicos: a criança e o adolescente em condição migratória; a situação dos angolanos que se estabeleceram em Londrina, PR e a dinâmica da desterritorialização e reterretorialização de imigrantes bolivianos no fluxo entre São Paulo e Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Os autores convidados são Vivian Valentim de Souza e Flávia Inês Schilling, Juliana Carvalho Ribeiro e Rosana Baeninger e Óscar Sousa Domingos e Líria Maria Bettiol Lanza. Vale a pena ler essa produção cuidadosa dos autores, baseadas em estudos e pesquisas.
Também faz parte do projeto editorial a entrevista com personagens que atuam no nosso campo. Assim, estreando a seção “Dedo de Prosa”, apresentamos um bate papo com Roque Patussi, fundador e coordenador do CAMI, que abre esta edição com uma conversa cheia de vivências e conhecimentos para compartilhar.
Para finalizar tem o “Relato de Experiência”, trazendo o exercício de práticas, políticas e iniciativas, como a da irmã Deolnilda Vigolo, que atua em Manaus no Serviço Pastoral do Migrante, Área Missionária Santa Mônica, e relata uma experiência, sobretudo, humana e fraterna no trabalho cotidiano com imigrante e refugiados.
Além de falar também do CAMI e sua importante atuação a partir de São Paulo, vamos trazer sempre aqui esses relatos significativos, na ótica de quem está na ponta fazendo a sua parte. Lembrando o quanto isso tem valor, como diz Madre Tereza de Calcutá: “o que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”.